Bombardeamento dos EUA <br>em Mossul mata <br>pelo menos 200 civis iraquianos

GUERRA Um ataque aéreo norte-ame­ri­cano na ci­dade de Mossul vi­timou pelo menos duas cen­tenas de ira­qui­anos. O mas­sacre obrigou Bagdad a sus­pender o as­salto à ci­dade cap­tu­rada pelo Es­tado Is­lâ­mico (EI).

A Am­nistia In­ter­na­ci­onal fala em «crime de guerra»

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O bom­bar­de­a­mento terá ocor­rido a 17 de Março mas foi com uma no­tícia pu­bli­cada no sá­bado, 25, pelo The New York Times, que o es­cân­dalo se tornou pú­blico. O co­ronel da Força Aérea e porta-voz do co­mando cen­tral norte-ame­ri­cano, John Thomas, ad­mitiu ao pe­rió­dico que o caso «captou atenção ao mais alto nível» mo­ti­vando o de­sen­ca­dear de uma in­ves­ti­gação in­terna, mas es­cusou-se a adi­antar se se tratou de um erro mi­litar ou de uma ar­ma­dilha mon­tada pelos jiha­distas.

Já no do­mingo, 26, o res­pon­sável pelas forças dos EUA no Iraque, o ge­neral Joe Votel, jus­ti­ficou a «ter­rivel tra­gédia» com a di­fi­cul­dade de travar o com­bate numa área ur­bana den­sa­mente po­voada, e com o facto de os mi­li­ci­anos do EI usarem civis como «es­cudos hu­manos».

As au­to­ri­dades ira­qui­anas avançam com uma versão se­me­lhante dos acon­te­ci­mentos, in­di­cando que os mer­ce­ná­rios do EI tran­caram cerca 200 civis, in­cluindo mu­lheres e cri­anças, em dois pré­dios que foram alvo de bom­bar­de­a­mentos norte-ame­ri­canos. Bagdad su­gere, no en­tanto, que com a ad­mi­nis­tração Trump os ata­ques aé­reos dos EUA tor­naram-se menos ri­go­rosos na con­tenção de «danos co­la­te­rais».

Am­nistia In­ter­na­ci­onal veio a ter­reiro, an­te­ontem, ga­rantir que o go­verno do Iraque terá pe­dido aos ha­bi­tantes da zona Ori­ental de Mossul para per­ma­ne­cerem em casa du­rante os bom­bar­de­a­mentos. A AI, que afirma fun­da­mentar o seu re­lato em tes­te­mu­nhos lo­cais, também não isenta de res­pon­sa­bi­li­dades a co­li­gação mi­litar li­de­rada pelos EUA acu­sando-a de «não tomar as pre­cau­ções ade­quadas para pre­venir as mortes de civis, vi­o­lando o di­reito in­ter­na­ci­onal hu­ma­ni­tário», e qua­li­fica o su­ce­dido como «um crime de guerra».

O facto de o EI usar civis como es­cudos hu­manos «não isenta as forças ira­qui­anas e a co­li­gação da sua obri­gação de não lançar ata­ques des­pro­por­ci­o­nadas», in­sistiu a or­ga­ni­zação.

Dupla moral

A ma­tança em Mossul obrigou Bagdad a sus­pender a ofen­siva que es­tava em curso para re­con­quistar a área Leste da se­gunda maior ci­dade ira­quiana, cap­tu­rada pelos ter­ro­ristas em 2014. O caso agora re­ve­lado in­dica, por outro lado, que a cam­panha cujo ob­jec­tivo é re­tomar de as­salto Mossul está muito longe de ser «ci­rúr­gica» e isenta de epi­só­dios bru­tais e cri­mi­nosos, como tem sido pro­jec­tado pelos que a pro­movem, se­cun­dados pelo manto de si­lêncio pro­por­ci­o­nado pela ge­ne­ra­li­dade dos meios de co­mu­ni­cação so­cial cor­po­ra­tivos.

O Mi­nis­tério das Mi­gra­ções do Iraque e o Alto Co­mis­sa­riado das Na­ções Unidas para os Re­fu­gi­ados as­se­guram que pelo menos 200 mil civis fu­giram nos úl­timos dias da ci­dade e que cerca de 600 mil es­tarão presos na zona velha, nas mãos dos jiha­distas. Mossul não dispõe há meses de for­ne­ci­mento re­gular de água po­tável ou de energia eléc­trica. Me­di­ca­mentos e ali­mentos estão quase es­go­tados.

O ce­nário é se­me­lhante ao ve­ri­fi­cado em Alepo, na Síria, mas o tra­ta­mento in­for­ma­tivo, in­ver­sa­mente, tem sido de uma «tran­qui­li­dade sur­pre­en­dente», acusa a Re­pre­sen­tação Per­ma­nente da Rússia na ONU, para quem «as tra­gé­dias diá­rias em Mossul são cla­ra­mente aba­fadas pelos media in­ter­na­ci­o­nais e pelas or­ga­ni­za­ções não-go­ver­na­men­tais».

«A es­cala da­quilo que está a acon­tecer é vá­rias vezes mais ca­tas­tró­fica do que em Aleppo», con­si­derou a missão di­plo­má­tica do Kremlin nas Na­ções Unidas, antes de apelar «a que se ab­dique dos pa­drões du­plos e que se cubra de forma ob­jec­tiva a si­tu­ação em Mossul, na Síria, ou onde quer que seja».

Du­rante a li­ber­tação do Leste de Alepo «foi re­a­li­zada uma ini­ci­a­tiva que per­mitiu salvar muitas vidas», de­sig­na­da­mente «um cor­redor de saída para todos os mi­li­tantes, in­clu­sive aqueles que per­ten­ciam aos agru­pa­mentos ter­ro­ristas», o que, acres­centa a di­plo­macia russa, per­mitiu «di­mi­nuir a ne­ces­si­dade de uso da força ar­mada».

«Es­pe­ramos que uma abor­dagem tão cor­recta, cau­te­losa e res­pon­sável seja apli­cada em Mossul», su­blinha Mos­covo.




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